domingo, 31 de janeiro de 2010

Timoneiro

O meu pai foi capitão
Condutor de fragatas
De uniforme branco, quepe em riste e insígnias de prata
Seduziu mulheres com sua alma sóbria
E promessas de retidão.

Minha madrinha, vulto e vento no cais,
Guardava um oceano de solidão e saudade poentes
Em amor ao comandante.

Precedeu-a mamãe, reluzente a mar e cetim
Ao lado dele no retrato no Clube Naval em 1955,
O vestido encobrindo o regaço a mim deserdado.

Nunca se imaginaria tal fado.

Meu pai, capitão,
Tremendo diante da procela colossal
Que tragou seus sonhos,
Torpedeou sua razão e implodiu sua bravura.

Dele só vejo a nuvem e os destroços em código
Como restos ordenados de um naufrágio
A boiarem no silêncio das ondas
Onde as gaivotas voam em mistério e anunciação.

Doravante serás meu timoneiro, papai.

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